[Plástico Pós-pandemia] Setor químico prevê retomada em dois anos
Para ABIQUIM, indústrias são plurais e reagiram de forma diferente à pandemia
Dando sequência ao projeto Plástico Pós-pandemia, conversamos com o presidente-executivo da ABIQUIM (Associação Brasileira da Indústria Química), Ciro Marino, que falou sobre a pluraridade do setor, e de como estão se adaptando a essa nova realidade. “Iremos demorar dois, três anos para nos recuperarmos, até porque as empresas de forma geral vão sair da pandemia em um endividamento maior”, comentou Marino.
Confira a entrevista completa:
Plástico Virtual – Como o setor se adaptou à nova realidade? Especialmente no viés econômico. Houve retração considerável? Como lidam com os números?
Ciro Marino – No segmento químico, você tem um grupo de empresas ou de setores, que foram extremamente utilizados para produzir a carga durante a pandemia, são os que produzem sabões, sanitizantes, álcool gel, cloro para água sanitária, e foi muito forte.
Do outro lado, em outros setores como automotivo, têxtil, estão parados. A parte do turismo também está parada, não costumamos relacionar turismo com química, mas você quando você tem o sabão, o sanitizante, o detergente, é também usado pelos hotéis e que precisam de produtos químicos.
A indústria química trabalhou entre 50% e 60% da sua capacidade, algumas empresas estão trabalhando a mais e outras nem estão trabalhando.
PV – Em relação a vagas de trabalho, como estão lidando com as perdas? Existe alguma iniciativa governamental para ajudar nesse quesito?
CM – Dentro da associação não perdemos ninguém, não tivemos redução salários e nem de jornada de trabalho, buscamos nos adaptar para trabalhar da melhor forma.
Para o setor em geral, tivemos redução de jornada de trabalho, porém o número de empresas que adotaram essas medidas não chegou a 30%.
Em outras medidas o setor adotou a questão de renegociação de pagamentos e encargos.
PV – O que espera do próximo ano?
CM – Muita gente imagina que a pandemia é uma coisa pontual, que vai afetar apenas o ano de 2020, e que 2021 vai estar tudo normal, porém não creio que será assim. Eu acho que isso é um processo, iremos demorar dois, três anos para nos recuperarmos, até porque as empresas de forma geral vão sair da pandemia em um endividamento maior.
O que pode ser bom para o Brasil é essa retomada das exportações, como o país tem uma pauta de comodities muito forte, pode ser que uma retomada de consumo de ferro ou alumínio, soja, grãos, que o Brasil exporta, pode crescer, o que deve ajudar a equilibrar essa balança comercial.
PV – Como lidam com a nova realidade? Existe alguma ação que queira destacar?
CM – A ABIQUIM possui várias ações, que não são pautas modernas, são pautas antigas, que neste momento de pandemia se tornaram essenciais, como o projeto do gás. Nós temos este PL do gás, que é para abrir o novo mercado de gás, e agora está no Congresso Nacional para aprovação, esta pauta se caminhar como imaginamos, que é uma queda do monopólio da Petrobrás, nós vamos ter um alinhamento de preços interno e externo, e o país acaba ganhando um impulso muito grande.
A indústria química teve uma retração de 50% em comparação aos outros mercados por conta do monopólio.
PV – Existe algum dado de recuperação econômica ou ao menos projeção?
CM – Muito difícil saber o que esperar do mercado, nós temos muitas variáveis, nós temos a pandemia, no país ainda não temos um bom alinhamento em legislativo e executivo.
Logicamente que se todos estivessem em um esforço alinhado, nós sairíamos muito mais rápido dessa crise. Este ano como um todo comparado ao ano passado, será negativo.
PV – A oscilação do dólar afeta a produção local? De que forma?
CM – A oscilação do dólar afeta a produção local, sim. Depende em qual fase você está na sua cadeia produtiva e quanto você emprega de mão de obra, são fatores muito importantes.
Se você está muito no início da cadeia produtiva, onde você comprou o petróleo e produziu a nafta, ai você passa pro PP, PE, elas são muito dolarizadas, então, acabamos sofrendo nesta parte. Conforme você vai transformando e empregando mão de obra, a pressão do dólar vai ficando diluída e aumenta a presença do real.