Em nossa última entrevista no projeto Plástico pós-pandemia entrevistamos o presidente da ABIPLAST (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), José Ricardo Roriz Coelho, e ele nos trouxe como o setor de transformados plásticos foi impactado pela pandemia do coronavírus e como pretende se recuperar.
Para o executivo, o ano de 2020 será de retração, com pequena melhora para 2021. Confira a entrevista completa:
Plástico Virtual – Como o setor se adaptou à nova realidade? Especialmente no viés econômico. Houve retração considerável? Como lidam com os números?
José Ricardo Roriz Coelho – A pandemia afetou a indústria do plástico principalmente em março em abril, período em que acumulou uma queda de -30%. Em maio e junho, o desempenho foi positivo e as expectativas dos empresários são ainda de aumento. Mas, no acumulado desse período, o setor ainda trabalha em um nível -11% do que no período pré-pandemia. Há perspectiva de que o ano encerre em um nível de produção -6% menor do que em 2019.
PV – Em relação a vagas de trabalho, como estão lidando com as perdas? Existe alguma iniciativa governamental para ajudar nesse quesito?
JRRC – O setor de forma geral utilizou recursos para evitar demissões. Em sondagem realizada pela ABIPLAST, 58% das empresas utilizaram instrumentos como redução de jornada e salário, 47% anteciparam férias, 38% tiveram que efetivamente demitir e 33% suspenderam contratos de trabalhos e utilizaram banco de horas.
O governo criou uma linha de financiamento de salários que tinha uma taxa de 3,75% a.a., porém foi pouco utilizada. Dos R$ 40 bilhões destinados a essa linha, apenas R$ 5 bilhões foram efetivamente utilizados. Houve muita dificuldade para acesso a esses recursos e o setor plástico, a exemplos dos demais, praticamente não se utilizou desse expediente.
PV – O que espera do próximo ano?
JRRC – Mantemos uma expectativa otimista de crescimento, mas uma recuperação muito mais lenta do que gostaríamos que ocorresse. Esperamos uma retração de -6% no setor em 2020 e em 2021 um crescimento próximo de 2,5%.
PV – Como lidam com a nova realidade? Existe alguma ação que queira destacar?
JRRC – Nesse momento em que ainda passamos pela pandemia, o objetivo é sobreviver, buscando melhores opções de crédito e capital de giro, trabalhando e gerindo o pessoal, e também fortalecer o relacionamento com fornecedores e clientes. É preciso se adaptar, adotando as melhores soluções utilizadas e transformando em novas formas de fazer negócio.
Na sequência, no pós-pandemia, vamos precisar ter uma agenda e adoção de tecnologias para se reposicionar e se adequar à competitividade mundial. Nesse quesito, é importante pensar nas tecnologias da indústria 4.0, que, reforço, não é somente investimento em automação e mecanização, mas, sim, o uso das tecnologias existentes para ampliar a produtividade e a competitividade da indústria.
Outra questão que já é uma realidade de mercado é a Economia Circular. Nesse momento de mudança na estrutura produtiva, estudar a diversificação de fornecedores utilizando-se do próprio material reutilizado é uma tendência já observada em Ecoparks – condomínios empresariais inteligentes nos quais por vezes o resíduo de uma atividade industrial é a matéria-prima de outra / ou a mineração urbana. Pensar em Economia Circular é adequar a indústria a um momento em que os fluxos de capital estão sendo direcionados para negócios com conceitos de investimentos sustentáveis (ESG – Enviromental, Social and Governance).
PV – Existe algum dado de recuperação econômica ou ao menos projeção?
JRRC – Como citado, nos meses de maio e junho tivemos um desempenho de recuperação e, de acordo com a sondagem de expectativas dos empresários, espera-se que agosto e setembro também sejam meses de desempenho positivo. Porém, mesmo com esses indicadores positivos ainda não voltamos aos níveis do período pré-pandemia.
PV – A oscilação do dólar afeta a produção local? De que forma?
JRRC – A oscilação do dólar afeta diretamente a aquisição de insumos pelo nosso setor, uma vez que a precificação de nossas matérias-primas leva em conta o câmbio. Atualmente, nosso setor vem sofrendo aumentos em seus insumos por causa do cenário internacional e das oscilações cambiais. Esses aumentos são bastante descolados da realidade do setor, que vem se reposicionando e se recuperando dessa situação de pandemia.