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Indústria Química tem recuo em 2019

Durante o 24º ENAIQ, setor discutiu perspectivas e discutiu sobre o processo de abertura comercial gradual e cuidadoso 

A Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química) realizou, na última segunda-feira, o 24º ENAIQ (Encontro Anual da Indústria Química) e apresentou dados sobre o setor, além das perspectivas para 2020.

Segundo o presidente do Conselho Diretor da Abiquim, Marcos De Marchi o setor químico teve um ano difícil em 2019, com queda na produção e aumento da participação do produto importado no mercado doméstico. Além das dificuldades específicas do setor, que é obrigado a pagar pelo gás natural três a quatro vezes mais do que os concorrentes americanos e o dobro dos europeus, o “Custo Brasil” também afeta as empresas brasileiras. “É um sobrecusto de RS 1,5 trilhão ao ano”, aponta De Marchi. 

O secretário do Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação do Ministério da Economia, Caio Megale, garantiu que o processo de abertura comercial será gradual, cuidadoso e não colocará em risco os setores já duramente castigados pelo Custo Brasil. “Sabemos do problema do ‘Custo Brasil’ e a ideia é mapear esses valores e fazer um programa contínuo para solucioná-los. São 500 anos de acúmulo de distorções, o País tem um custo muito elevado e todos temos o propósito de virar essa página”, declarou a uma plateia de 550 pessoas, composta por empresários e executivos da indústria química.

A abertura econômica e a inserção internacional do Brasil são temas importantes para a Abiquim. O setor é um dos mais abertos, com uma presença de 42% de importados no consumo nacional. “Os próximos passos para promover um ambiente mais competitivo são as reformas Tributária, que deixará o pagamento dos tributos mais simples e a Administrativa, que reformulará a administração pública”, afirmou Megale.  

O diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas, Carlos Langoni, lembrou que a situação de monopólio na exploração e transporte do gás natural criou um ambiente para que o preço do insumo perdesse a competitividade. “Para reverter esta situação é preciso aproveitar o forte aumento de produção de gás natural. É o momento de diversificar essa oferta com grandes atores privados”. 

Setor forte  

A vice-presidente do Conselho Diretor da Abiquim, Daniela Manique, anunciou que o faturamento do setor em 2019 deve ser de US$ 118,7 bilhões, 4,2% menor que em 2018. O déficit da balança comercial voltou a crescer e deve chegar a US$ 32,1. “O volume de produção caiu 3,7% e as vendas internas caíram 1,7% em comparação com o ano passado e a capacidade ociosa atingiu 30% em 2019”, comentou.

O Brasil ainda possui a sexta maior indústria química do mundo, mas está se afastando das cinco maiores: China, Estados Unidos, Japão, Alemanha e Coréia. “Nossa matéria-prima, energia, custos logísticos e tributos superam os valores pagos pelas empresas nos países concorrentes”, lamenta Daniela. A executiva destacou que a química consome 25% do gás natural destinado à indústria, o que a torna o segmento que mais consome o insumo. “O programa Novo Mercado do Gás é um alento para promover a competitividade”. 

O faturamento líquido do grupo de resinas termoplásticas foi de UB$ 8,4 bi, e representa grande fatia do faturamento geral, que foi de US$ 55,5 bi.

Novas perspectivas para 2020

Segundo o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Décio Oddone, a partir de 2020 as indústrias sentirão os efeitos da liberação do transporte do gás natural liquefeito. “O Rio de Janeiro já aprovou esse marco regulatório e poderá ser usada toda uma infraestrutura do estado remunerando a distribuidora apenas pelo custo de manutenção de seus gasodutos. A tendência de redução no custo do gás natural para os próximos anos é o choque de competitividade e reindustrialização que revolucionará toda a indústria intensiva em energia, incluindo a química”, afirma.

O economista e sócio-executivo da consultoria GO Associados, Gesner de Oliveira, abordou a importância de se reduzir o “Custo Brasil” para aumentar a competividade das indústrias e dessa forma criar condições para uma inserção comercial responsável, por meio de acordos com outros países, que ocorra por um processo transparente com avaliação de impactos sobre o mercado local.

O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, explicou que o banco vai “destravar os gargalos necessários para o capital fluir”. Além de manter o apoio para o desenvolvimento da infraestrutura, na próxima década o banco investirá em três setores: saneamento básico, florestas e gás natural. “Neste último tema, o Banco atuará como facilitador para modelar o escoamento do gás e com sua fábrica de projetos para estruturar a privatização das operadoras de gás no Brasil”.

Durante o ENAIQ também foi feita a entrega do prêmio Kurt Politzer de Tecnologia. Na categoria Startup a vencedora foi a T.N.S. Nanotecnologia pelo projeto “Substituição de Solventes Tóxicos e Diminuição do Consumo Energético no Processo Produtivo de Antimicrobianos para a Indústria Têxtil”. A vencedora da categoria Empresa foi a Solvay com o trabalho “EON – Solução Inovadora e Sustentável para Aumento de Produtividade”. Já na categoria Pesquisador, os vencedores foram Frank Nelson Crespilho e Graziela Sedenho pelo projeto “Baterias Orgânicas e Orgometálicas não corrosivas, seguras, sustentáveis e com baixa toxicidade”.

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