Indústria da transformação registra maior uso de capacidade em 10 anos
O levantamento da FGV revela que a indústria de transformação no Brasil atingiu o maior nível de utilização de capacidade instalada. Especialista da fundação analisa fatores de influência
Indústria da transformação registra maior uso de capacidade em 10 anos
De acordo com o levantamento da FGV (Fundação Getúlio Vargas) encomendada pela Valor, baseado nos dados da Sondagem Industrial da fundação, a indústria da transformação demonstrou maior uso de capacidade instalada após dez anos.
Em julho, como aponta o estudo, a Nuci (Nível de Utilização de Capacidade Instalada), a indústria de transformação chegou a 83,40%, o maior resultado aconteceu em 2011 com 83,60%.
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No entanto, o nível de estoques chegou a 96,2 pontos na pesquisa, isto é, o menor desde março de 2022 que marcou 95,5 pontos. Assim, com os estoques baixos para a média industrial, ocorreu o uso acelerado de capacidade em julho, explica Stefano Pacini, economista da FGV responsável pela sondagem e pelo levantamento.
Nesse sentido, o pesquisador esclarece: “E isso em um contexto de demanda em alta [por produtos industriais]. Se o nível de estoque está baixo, é porque a prateleira está vazia. Se a prateleira está vazia, a gente vai produzir para encher a prateleira. Nunca falha isso”.
Ainda, os dados da FGV estão em consonância com os números oficiais mais recentes. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a produção da indústria brasileira registrou um crescimento de 4,1% em junho em comparação a maio.
Sendo assim, esse aumento foi o mais significativo desde julho de 2020, quando atingiu 9,1%,. Desse modo, quebrou uma sequência de dois meses de quedas, período em que houve uma perda acumulada de 1,8%.
Pacini destaca que esse desempenho também sofreu influência efeito de “rebote” da retomada da indústria no Rio Grande do Sul, que havia sofrido perdas em maio devido às fortes chuvas.
Diferenças no desempenho industrial entre 2011 e 2024
De janeiro a junho, a indústria brasileira registrou um crescimento acumulado de 2,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Assim, destacando os bens de capital, cuja produção aumentou 5% nessa comparação.
Apesar da alta na produção, do Nuci elevado e dos estoques baixos, a indústria ainda estava 14,3% abaixo do nível recorde de maio de 2011.
Quando questionado sobre distância do nível recorde, mesmo com bons desempenhos em uso de capacidade e estoques, Pacini explicou que 2011 e 2024 apresentam contextos muito diferentes.
Isso porque, há 13 anos, a indústria tinha níveis de estoque muito mais baixos do que em julho deste ano, com o nível de estoques em maio de 2011 registrado em 92,2 pontos. Naquele período, havia um significativo investimento por parte dos empresários e a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) estimulava a produção.
Além disso, Pacini mencionou a possível perda de capacidade produtiva da indústria ao longo dos anos.
No entanto, os dados oficiais do setor, fornecidos pelo IBGE, revelam outra conclusão de Pacini: os estoques baixos não têm relação com o resultado da escassez de insumos para produção. Pacini observou que, nos anos de 2021 e 2022, houve uma escalada global de preços e custos, agravada pelo início da guerra entre Rússia e Ucrânia, que desorganizou a cadeia de fornecimento de insumos.
Segundo Pani, estes estoques baixos podem significar que as empresas não estão conseguindo produzir, “já ocorreu no passado, uma escassez de oferta. Não é o que temos hoje, não temos problemas de insumo”, disse.
Avalição dos setores da indústria e outros fatores de influência
Ainda, o pesquisador analisou os níveis de estoque por segmento da indústria da transformação. Entre os 17 segmentos avaliados na Sondagem, 10 apresentaram níveis de estoque abaixo de 100 pontos, o que indica um patamar de equilíbrio.
Ele destacou setores como o de máquinas e equipamentos e o de material plástico, que contribuíram para a redução geral dos estoques. Com isso, para um maior uso da capacidade industrial.
Os fatores macroeconômicos, como a taxa básica de juros (Selic), também desempenharam um papel importante, como aponta Pani.
O Banco Central iniciou a redução da Selic em agosto de 2023, e embora o ciclo de cortes tenha sido interrompido este ano, as diminuições tiveram impacto na economia real. A Selic influencia tanto as taxas de crédito para os industriais quanto os juros aplicados aos consumidores na compra de produtos industrializados.
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